Falamos já do malefício como sendo um fenômeno pelo qual uma pessoa inocente pode ser incomodada pelo demônio. Sendo este caso o mais vulgar, convém tratá-lo a parte. Esforçar-me-ei igualmente por precisar os termos usados; não existe terminologia universalmente aceita: cada autor deve, portanto precisar o sentido que dá às palavras.
Para mim a palavra malefício é um termo genérico. Designa normalmente o fato de prejudicar outras pessoas através da intervenção do demônio. É uma definição exata que, no entanto não especifica de que forma é que tal mal é provocado. Daí as confusões; por isso alguns autores consideravam o malefício como sinônimo de bruxaria ou de feitiçaria.
Penso, pelo contrário que a bruxaria e a feitiçaria constituem duas formas diferentes de realizar um malefício. Sem pretender fazer um estudo exaustivo, e fundamentando-me unicamente sobre casos com que me defrontei, analisarei as seguintes formas de malefício:
1º a magia negra.
2º as maldições.
3º o mau olhado.
4º os bruxedos (também chamados trabalhos ou despachos).
Trata-se de formas diferentes, mas não completamente distintas, porque as interferências entre elas são inúmeras.
1º - A magia negra, a feitiçaria, os ritos satânicos que tem o ponto culminante nas missas negras.
Reagrupo estas práticas por causa das analogias que existem entre elas; na verdade enumerei-as por ordem de gravidade. Tem como características comuns fazer malefício a uma pessoa determinada por intermédio de fórmulas ou ritos, por vezes muito complexos, invocando o demônio, mas não fazendo uso de objetos particulares. Aquele que se dedica a tais práticas torna-se servidor de Satanás, mas por sua própria culpa; só nos referiremos a eles como meios para realizar malefícios com o fim de prejudicar outras pessoas.
Já a Sagrada Escritura é muito peremptória na proibição destas práticas as quais considera como um renegar a Deus para se entregar ao demônio: não haja ninguém no meio de ti que faça passar pelo fogo (sacrifícios humanos) o seu filho ou a sua filha ou se dê a práticas de encantamentos, ou se entregue a augúrios, a adivinhação ou a magia, ao feiticismo, ao espiritismo, aos sortilégios ou a invocação dos mortos. Porque o Senhor abomina aqueles que se entregam a semelhantes práticas (Dt 18,10-12).
Não vos dirijais nunca aos adivinhos, nem aos bruxos; para que não vos contamineis por meio deles. Eu sou Senhor, vosso Deus (Lv 19,31).
Todo o homem ou mulher que evoque os espíritos ou se entregue a adivinhação será morto; será apedrejado, merece castigo (Lv 20,27; cf Lv 19,26-31).
O livro do Êxodo também é muito severo: não deixarás viver os feiticeiros (22,17).
Também noutros povos a magia era punida com a morte. Mesmo se nestes extratos os termos em questão foram traduzidos de várias formas (e variam segundo as traduções), o conteúdo é muito claro. Voltaremos a falar de magia num capítulo posterior.
2º - As maldições.
São agouros de mal e a origem do mal está no demônio; quando são realizados com verdadeira perfídia e existe uma ligação de sangue entre o que maldiz e o maldito, as conseqüências poder ser horríveis.
Os casos mais freqüentes e mais graves que me foram dados encontrar são as maldições dirigidas pelos pais ou avôs aos seus filhos ou netos. Tem-se verificado que a maldição é muito grave se se refere a sua existência ou se é feita por ocasião de acontecimentos particulares como por exemplo no dia do casamento. A ligação e autoridade dos pais para com os filhos é única.
Vejamos três exemplos típicos:
1- Acompanhei um jovem que tinha sido amaldiçoado pelo pai desde o nascimento (claro que não suspeitava) e que tinha sido alvo de maldições toda a sua infância e no período em que viveu em casa dos pais.
Este infeliz conheceu toda a espécie de adversidades: problemas de saúde, dificuldades incríveis no setor profissional, infelicidade no casamento, aparecimento de doenças nos seus filhos... segundo a minha opinião, as bênçãos trouxeram-lhe um alivio espiritual, mas não me parece que tenhamos conseguido mais do que isso.
2- os pais eram contra o casamento da filha com o rapaz que ela amava; dando-se conta da inutilidade dos seus esforços, resignaram-se e assistiram ao casamento. No dia da celebração o pai chamou a filha sob um pretexto qualquer; na verdade ele amaldiçoou-a desejando-lhe a ela, ao marido e aos filhos as piores infelicidades que, efetivamente se verificaram, apesar de intensa oração e bênçãos.
3- um dia, um senhor veio ver-me; levantando as calças, mostrou-me as pernas terrivelmente marcadas por uma serie de operações. Começou a contar-me como é que isso aconteceu. O pai era muito inteligente; a mãe, sua avó portanto, queira muito que ele fosse sacerdote mas ele não se sentia a altura. As discussões eram de tal ordem que o jovem teve que sair de casa; prosseguiu com sucesso os estudos superiores, foi muito apreciado no seu trabalho, casou-se, teve filhos, mas tudo isto depois de ter cortado relações com a mãe que não queria voltar a vê-lo, fosse sob que pretexto fosse. Quando um dos filhos, que era este que me falava, fez oito anos, tiraram-lhe uma fotografia que trazia consigo e que me mostrou: um belo rapaz com um sorriso encantador, usando uns calções, joelhos a mostra, meias altas, segundo a moda da época. O pai teve uma idéia infeliz. Pensando que esta imagem iria tocar a mãe e que ela se reconciliaria com ele, enviou-lhe a fotografia. A mãe respondeu-lhe com estas palavras: Que as pernas desta criança sejam para sempre amaldiçoadas e se tu alguma vez voltares à terra, fica sabendo que morrerás na cama em que nasceste. Tudo isso aconteceu.
O pai voltou a terra somente alguns anos depois da morte da sua mãe; mas de repente adoeceu e foi levado provisoriamente para a sua casa natal onde morreu nessa mesma noite.
3º - O mau olhado.
Trata-se de um malefício feito a uma pessoa por intermédio do olhar. A idéia de certas pessoas transmitirem malefício ao olhar para alguém de esguelha não constitui como algumas pessoas pensam um mau olhado; isso são histórias.
O mau olhado é um verdadeiro malefício que supõe a intenção de prejudicar uma pessoa com intervenção do demônio. O que tem de específico é o meio utilizado para levar a cabo esta ação nefasta: o olhar.
Só fui confrontado com alguns casos raros e pouco claros; quer dizer, o efeito maléfico era claro, embora não fosse claro nem o autor , nem como é que o meio utilizado é suficiente, isto é, um simples olhar.
Aproveito esta ocasião para dizer que muitas vezes não se consegue identificar o autor do malefício nem conhecer a origem do mal. O importante é que a vítima não comece a suspeitar desta ou daquela pessoa mas que perdoe de todo o coração e reze por aquele que lhe fez mal, quem quer que tenha sido.
No que diz respeito ao mau olhado, concluo dizendo que o fenômeno em si é possível, mas que nunca encontrei casos seguros.
4º - O bruxedo. (também chamado trabalho ou despacho).
É de longe o meio mais empregue para fazer malefícios. É a ação de fazer ou confeccionar um objeto com a ajuda dos mais estranhos e variados materiais; este objeto reveste-se assim de um valor quase simbólico: é um sinal sensível da vontade de prejudicar e um meio oferecido a Satanás para que imprima nele a sua força maléfica.
Diz-se muitas vezes que satanás é o macaqueador de Deus; neste caso, podemos estabelecer a analogia com os sacramentos, que são caracterizados por uma matéria tangível (como por exemplo a água do Batismo) como instrumento de graça. No caso da bruxaria, o material é utilizado com a finalidade de prejudicar.
Existem duas formas distintas de aplicar o bruxedo a pessoa designada: de um modo direto, que consiste em preparar propositadamente para a vítima uma bebida ou um alimento em que foi misturado o bruxedo. Este é composto pelos ingredientes mais diversos: sangue de menstruação, ossos de mortos, diversos pós geralmente negros (queimados, órgãos de animais, - essencialmente o coração - , ervas especiais... contudo o efeito maléfico não depende tanto dos materiais utilizados, como da vontade de prejudicar através da intervenção do demônio; e essa vontade vem refletida nas fórmulas ocultas pronunciadas durante a preparação destas misturas.
É característico que a vítima dum tal malefício sofra quase sempre, entre outras coisas, de dores de estômago, bem conhecidas dos exorcistas, e que só se curam depois de se ter libertado o estômago por meio de vômitos repetidos ou de muita evacuação, em que são expelidas as coisas estranhas.
Outro modo que podemos chamar indireto (utilizo aqui os termos empregues pelo Pe. La Grua no seu livro, citado na Introdução), consiste em fazer um malefício sobre os objetos que pertencem a pessoa designada como vítima (fotografias, roupas ou outras coisas pessoais), ou sobre figuras que a representam: bonecos, estatuetas, animais, outras vezes assinalam pessoas vivas do mesmo sexo e idade.
Trata-se de material de trespasse que é marcado com os males correspondentes aos que se desejam infligir à pessoa em questão. O fato de espetar espinhos na cabeça duma boneca constitui um exemplo clássico deste rito satânico.
A vítima sofre de dores de cabeça horríveis a propósito das quais declara: È como se minha cabeça tivesse sido atravessada por espinhos pungentes. Podem igualmente espetar pregos, facas nos locais do corpo que se quer martirizar. E a pobre vítima sente sistematicamente dores lancinantes precisamente nesses locais.
Os sensitivos (de que falaremos mais a frente) dizem muitas vezes: Você tem um grande espinho que a atravessa dali até ali e em seguida indicam o ponto exato. Conheci casos em que as pessoas foram libertadas desses males depois de lhe terem sido retirados espinhos longos e estranhos, constituídos por uma matéria semelhante ao plástico ou por madeira flexível, saídos das partes designadas. Na maioria dos casos a libertação é acompanhada das coisas mais diversas: fios de algodão coloridos, fitas, pregos, fios de ferro retorcidos.
O bruxedo realizado sob a forma de amarração merece uma explicação a parte. Neste caso, a figura utilizada no trespasse recebe amarração especial com cabelos ou de tiras de tecidos de diferentes cores (essencialmente branco, negro, azul ou vermelho, consoante o tipo de mal a infligir). Damos um exemplo: uma boneca foi ligada com crina de cavalo, desde o pescoço até ao umbigo com a finalidade de prejudicar o bebe de uma mulher grávida.
Esta operação tinha por objetivo fazer nascer um ser disforme, isto é, que não se desenvolvesse naquela parte do corpo compreendida na amarração. As conseqüências, contudo, foram menos graves do que se teria querido provocar. As amarrações exercem ação especialmente sobre o desenvolvimento de várias partes do corpo, mas sobretudo sobre o desenvolvimento mental: algumas vítimas sentem-se incapacitadas nos seus estudos ou no trabalho, e não podem adotar um comportamento normal porque receberam influência de amarrações a nível do cérebro. E os médicos tentam em vão identificar e curar esta doença.
Também vou fazer referência breve a um outro caso muito freqüente. A existência de bruxedos é muitas vezes atestada pela descoberta de objetos estranhos nas almofadas e nos colchões. Poderia descrever um nunca mais acabar de fatos de que fui testemunha e nos quais não teria acreditado se eu próprio não os tivesse visto. Encontra-se de tudo: fitas coloridas atadas, mechas de cabelo atados apertadamente, cordas cheias de nós, lã fortemente entrançada por uma força sobre-humana, em forma de coroa ou de animal, (especialmente ratos) ou de figuras geométricas; ou ainda coágulos de sangue, pedaços de madeira ou de ferro, fios de ferro enrolados, bonecas cobertas de marcas ou de feridas, etc. Acontece que, por vezes, se formam nos cabelos de mulheres ou de crianças nós muito enrijados. Todos estes fenômenos não se explicam sem a intervenção de uma mão invisível.
Também acontece, por vezes, que estes objetos estranhos não se encontram logo depois de se terem aberto as almofadas ou os colchões; mas depois de se aspergir com a água exorcizada ou introduzir qualquer imagem benzida (um crucifixo ou uma imagem da Virgem Maria, por exemplo), então é que aparecem os objetos mais estranhos.
Antes de concluir, insisto de novo nas recomendações feitas pelo Pe. La Grua na sua obra citada anteriormente. Embora o que eu escrevi se fundamente na minha experiência direta, não é necessário acreditar ingenuamente nos malefícios, particularmente nos que são feitos sob a forma de um feitiço. Trata-se sempre de casos raros. Um exame atento aos fatos revela muitas vezes que causas psíquicas, sugestões, falsos medos estão na origem de inconvenientes lamentáveis.
Acrescentaria que, muitas vezes, os malefícios não atingem a sua finalidade por várias razões: porque Deus não o permite; porque a pessoa visada está bem protegida por uma vida de oração e de união com Deus; porque um grande número de bruxos são incapazes ou simples aldrabões; porque o demônio é o mesmo mentiroso desde o principio e engana os seus próprios seguidores.
Seria um gravíssimo erro viver no terror de receber um malefício. Não está indicado em nenhum lugar na Bíblia que é preciso ter medo de um demônio. Diz que devemos resistir-lhe, ficando com a certeza de que ele fugirá de nós; diz que devemos estar vigilantes contra os seus ataque se sólidos na fé.
Beneficiamos da graça de Cristo que esmagou Satanás com a Sua Cruz; temos a intercessão de Maria Santíssima, INIMIGA de satanás desde o início da humanidade; temos o apoio dos anjos e dos santos. Sobretudo temos o sinal da Trindade que nos foi impresso no Batismo. Se vivermos em comunhão com Deus, o demônio e o inferno inteiro é que tremem diante de nós. A não ser que lhe abramos a porta...
Uma vez que o malefício é a forma de influencia diabólica mais clássica, enunciarei alguns conceitos suplementares fundamentados na minha experiência.
O malefício pode revestir várias formas em função do seu objetivo. Pode tratar-se de um malefício de divisão se a sua finalidade é separar esposos, noivos ou dois amigos. Fui várias vezes confrontado com separações de noivos sem motivos aparentes; na verdade não se voltaram a aproximar apesar de se amarem; um dos seus pais, hostil a idéia do casamento confessou que procurou um bruxo para os fazer separar.
Pode-se tratar também dum malefício de amarração (também chamado de encantamento ou de paixão) se o objetivo é fazer com que duas pessoas se casem. Lembro-me de uma jovem que se apaixonou pelo noivo de uma das suas amigas; depois de esforços frustrados, recorreu a um bruxo; os noivos separaram-se e o rapaz casou com a rapariga que tinha encomendado o malefício. É inútil dizer que o casamento foi um desastre: o marido que nunca tinha amado a mulher, não teve coragem para a deixar e tinha sempre a sensação de que o casamento lhe tinha sido imposto.
Outros malefícios são dirigidos no sentido da doença, isto é, são feitos deforma a que a vítima esteja sempre doente; outros visam a destruição (os chamados malefícios de morte).
Basta que a vítima se coloque sob a proteção da Igreja, isto é, basta que comece a receber os exorcismos, ou a rezar e a pedir que rezem intensamente por ela, para que a morte não a atinja.
Segui um grande número destes casos; e, como já disse, o Senhor interveio de forma miraculosa, ou pelo menos de forma humanamente inexplicável, para salvar a vida destas pessoas dos perigos mortais e especialmente das tentativas de suicídio.
Quase sempre (eu diria mesmo sempre, pelo menos nos muitos casos que me apareceram) a vexação diabólica, ou o encaminhamento para a possessão, estão ligados a malefícios de uma certa gravidade; é a razão pela qual o exorcismo é necessário. Os malefícios feitos a uma família inteira, eventualmente para a destruir, tem igualmente efeitos terríveis.
O ritual, no nº 8 das regras, em primeiro lugar põe a vítima de sobreaviso para que, em caso de malefícios, não vá a bruxos ou a feiticeiros, ou a outras pessoas deste gênero, que não sejam ministros da Igreja; que não recorra a nenhuma forma de superstição nem a outras práticas ilícitas. A experiência prova que este conselho é indispensável.
Os bruxos são muitos enquanto os exorcistas são pouquíssimos. Admira que um especialista como Mons. Corrado Balduci aconselhe nos seus três livros que se consulte um bruxo em caso de malefício, ainda que este seja suscetível de fazer um outro malefício. É um erro imperdoável num autor que se distinguiu tanto noutros assuntos das suas obras.
Mas é particularmente importante esta advertência porque a tendência para recorrer aos bruxos, feiticeiros, santarrões e similares é tão velho como o mundo.
O progresso cultural, científico, social, não tem a mínima influência neste hábito, que convive tranquilamente com o nosso mundo do progresso. E estão envolvidas igualmente todas as classes sociais, até as mais elevadas culturalmente (engenheiros, médicos, professores, homens da política...).
No que se refere às perguntas a fazer ao demônio, a regra nº 20 do Ritual, sugere ao exorcista que pergunte qual a causa da presença do demônio naquele corpo e, em particular, se é conseqüência de um malefício; se for o caso, e se a pessoa foi vítima por ter comido ou bebido substancias maléficas, o exorcista deve ordenar a vítima que as vomite. Se, pelo contrário, se trata de um objeto maléfico que foi escondido nalgum lugar fora do corpo, o exorcista deve perguntar indicações do local, procurar o objeto e queimá-lo.
Estas indicações são muito úteis. Na verdade quando uma pessoa é vítima de um malefício, comendo ou bebendo uma preparação maléfica, quase sempre sofre de dores de estomago muito específicas, que já mencionamos várias vezes, e que demonstram a necessidade de libertação pela via fisiológica ou vomitando.
Nesta caso, é necessário recomendar a vítima que beba água benta assim como óleo e sal exorcizados, a fim de favorecer essa libertação. Pode acontecer, como já dissemos, que certos objetos maléficos sejam expulsos de forma misteriosa: a pessoa pode, por exemplo notar subitamente uma dor no estômago, como se tivesse um pedregulho e em seguida encontrar um pedregulho no chão e a dor passa.
Pode-se igualmente encontrar fios de diversas cores, pequenas cordas entrançadas, etc. Todos estes objetos devem ser abençoados com água benta e queimados ao ar livre; e as cinzas, assim como os objetos de ferro e os que não ardem devem ser deitados em água correntes (rios, esgotos). Não deitar nas casas de banho, porque isso traria imensos inconvenientes, tais como entupimento de lavabos, inundações, etc.
Em muitos casos, os objetos estranhos encontrados nas almofadas e nos colchões, não foram descobertos através de interrogatório feito ao demônios, mas por indicação de carismáticos ou de sensitivos. Este discernimento foi o motivo que deu origem a descoberta do malefício e a razão pela qual se recorreu a um exorcista. É preciso, também nestes casos, queimar as almofadas e os colchões no exterior da casa; depois de os ter aspergido com água benta, as cinzas devem ser eliminadas como atrás indicado.
É importante que, enquanto se queimam estes objetos maléficos, se reze. Não se pode agir sem prudência, especialmente quando os objetos que foram submetidos a um malefício são descobertos por acaso, ou por indicação do demônio. Para minha orientação, o Pe. Candido contou-me um dos seus erros de juventude, ou seja, uma imprudência que cometeu quando começou a exorcizar.
Na altura, estava a exorcizar uma jovem, com a ajuda de uma padre Passionista que, como ele, também tinha recebido autorização do bispo. Ao interrogar o demônio, descobriram que esta jovem tinha sido objeto de um bruxedo. Deixou-os saber que este tinha sido feito numa caixinha em madeira com cerca de 25cm de comprimento, enterrada a profundidade de um metro junto de uma árvore, cujo local exato lhes foi indicado.
Cheios de zelo, foram armados de enxada e de pá para escavar no local indicado. Encontraram a caixinha de madeira que correspondia a descrição; abriram e examinaram o conteúdo. Uma figura obscena no meio de outras ninharias. Queimaram imediatamente com álcool a fim de os reduzir a cinzas. Entretanto, não pensaram na benção antes de deitar fogo aos objetos, também se esqueceram de rezar sem interrupção enquanto os queimavam, invocando a proteção do sangue de Jesus; acontece que tocaram nos objetos várias vezes sem se lembrarem de lavar as mãos com água benta.
A conclusão é que Pe Candido ficou 3 meses de cama, com violentas dores de estomago, que persistiram com uma certa força durante uma dezena de anos e que se mantiveram nos anos seguintes. Foi uma dura lição, no entanto teve utilidade para mim e para todos os que se vierem a encontrar em situações semelhantes.
Depois perguntei ao Pe. Cândido se depois de todas estas provas e sofrimentos, a jovem tinha ficado liberta. Ele respondeu-me negativamente; a jovem não tirou nenhum proveito disso. Isto prova que os feitiços muitas vezes exercem todo o seu efeito sobre a pessoa no momento em que são realizados; encontrá-los e destruí-los não serve de nada.
Fui confrontado com diversos casos deste tipo em que muitos anos se passaram entre a realização do malefício e a descoberta do bruxedo que, entretanto, já tinha completado a sua ação maléfica; quando se encontrou e foi destruído, a sua destruição já foi ineficaz, e já não trouxe nenhum benefício à pessoa atingida. O que na realidade é útil são os exorcismos as orações, os sacramentos e os sacramentais.
Noutros casos, porém, o fato de queimar o objeto sobre o qual foi feito o bruxedo, interrompe o malefício. Tive a prova disso em casos de “bruxedo de morte” por putrefação em que tinha sido enterrada carne amaldiçoada que foi descoberta e destruída antes de se chegar a decompor. Por vezes animais, especialmente sapos, são enterrados vivos embora com um espaço vazio à volta. Nestes casos o malefício também pode ser interrompido se os animais são descobertos ainda vivos. Em todo o caso os exorcismos, as orações, os sacramentos são sempre os remédios fundamentais.
Nunca será demais dizer como é importante recorrer aos meios oferecidos por Deus e nunca aos bruxos mesmo que se tenha a impressão de que estes meios são mais lentos em atuar. O Senhor nos deu a força do Seu nome, o poder da oração (tanto pessoal como em grupo) e a intercessão da Igreja.
O que acontece quando se recorre aos feiticeiros, àqueles que dissimulam a sua ação sob a denominação equívoca da magia branca (que é sempre um recurso ao demônio) é que, é realizado um outro malefício para suprimir o anteriormente feito; só serve para agravar o mal. O Evangelho fala-nos dum demônio que sai duma alma para voltar de novo com sete demônios piores do que ele (Mt 12,43-45). É o que acontece quando se consultam os bruxos.
Vamos falar de três exemplos marcantes de situações em que várias vezes me vi confrontado.
Primeiro exemplo. Uma pessoa começa a sentir dores físicas. Consulta vários médicos e experimenta vários medicamentos, mas a dor cada vez aumenta mais, em vez de desaparecer. Não se descobre a causa. Então vai a um bruxo ou a um cartomante, experiente em magia que lhe diz: “Você foi vítima de um bruxedo.
Se você quiser, eu livro-o disso. Só vou levar 10 contos”. Depois de refletir um pouco, decide pagar. É-lhe pedida, eventualmente, uma fotografia, uma roupa íntima, uma mecha de cabelo. Alguns dias depois, ele está realmente curado e satisfeito de ter gastos os 10 contos: o demônio foi-se embora.
Depois de um ano, reaparecem os mesmos incômodos. O pobre homem volta a consultar toda a espécie de médicos mas os medicamentos não lhe trazem qualquer espécie de alívio, e a dor cada vez se torna mais forte. É o demônio que regressa acompanhado por outros sete demônios piores do que ele. Não agüentando mais o sofrimento, o infeliz pensa: “Aquele bruxo fez-me pagar 10 contos, mas livrou-me do mal”. E volta a procurá-lo sem se dar conta de que foi por causa dele que o mal se agravou.
O bruxo diz-lhe: “Desta vez você foi alvo de um bruxedo ainda maior. Se você quiser que o livre só o faço por 50 contos, que é metade do que eu levaria a outra pessoa”. E assim voltamos ao ponto de partida. Se por acaso a vítima, por fim, se vai confiar a um exorcista, além do pequeno incomodo inicial, agora já é preciso libertá-la também no mal gravíssimo que lhe provocou o bruxo.
Segundo exemplo do mesmo tipo de situação. O doente paga, é curado pelo bruxo, e fica bem. Mas em compensação o seu mal passa para a mulher, os filhos, os pais e os irmãos. Assim, o incomodo também é multiplicado (ainda que seja sob a forma de ateísmo obstinado, de uma vida de pecado, de acidentes de carro, de desgraças, depressões...)
Terceiro exemplo. Mais uma vez, o mesmo tipo de situação. A pessoa é curada pelo bruxo e não volta a adoecer. Contudo, neste caso, a doença tinha sido permitida por Deus para que a vítima expiasse os seus pecados e voltasse a uma vida de oração e de freqüência à Igreja e aos sacramentos. A finalidade desta doença era obter grandes frutos espirituais para a salvação da sua alma. Com a cura operada pela intervenção do demônio, que conhecia bem esta finalidade, o objetivo bom para que tinha sido enviado aquele mal, não foi atingido, perdeu-se.
Devemos ter claramente presente que Deus permite o mal, para daí tirar o bem; permite a cruz, porque é unicamente através dela que alcançamos o céu. É uma verdade evidente que se verifica, especialmente, em pessoas dotadas de carismas particulares, que muitas vezes são atingidas por sofrimentos, por cuja cura não é preciso rezar.
Todos se lembram do Pe. Pio que suportou duramente cinqüenta anos as dores lancinantes das cinco chagas; contudo ninguém pensou em pedir ao Senhor que o libertasse desse sofrimento; era demasiado evidente que era obra de Deus. O demônio é esperto; e bem gostaria que o Pe. Pio não tivesse impressos na carne os sinais de paixão! Mas, no entanto, fica satisfeito se pelo contrário, é ele quem provoca os estigmas e suscita falsos místicos.