Em Roma ou na cidade do Vaticano, anjos são visíveis como pássaros. Os demônios, estão bem escondidos.
Na Idade Média, a Igreja puniu com fogueira homens e mulheres que contrariaram a fé católica. A caça às bruxas durou séculos. A inquisição foi abolida oficialmente no século 18.
Mas os demônios, que tinham saído de moda, voltaram aos rituais secretos. Na Roma dos Papas, aumenta o número de seitas satânicas.
Na Itália, existem nove mil grupos fundados com princípios como purificação e iluminação. Muitos fazem ritual satânico, missa negra ou orgia sexual. As denúncias são da Igreja, que relatou também casos de canibalismo. A polícia italiana nunca comprovou.
O satanista mais conhecido é Marco Dimitri, 39 anos, presidente do grupo “Crianças de Satanás”. Dimitri ficou 400 dias num cárcere, acusado de pedofilia e violência sexual. Foi julgado inocente. Com 800 adeptos na Itália, a seita ainda está sob suspeita.
“Me reconheço um satanista e um defensor da liberdade de pensamento. A inquisição nunca acabou. Está mais viva do que nunca”, acusa Dimitri.
No território de Satã, água, fogo, e estranhas inscrições nas paredes. É numa sala pintada de preto que os integrantes do grupo Crianças de Satanás faz os seus rituais. Em uma mesa, que eles chamam de altar, alguns objetos de culto, como uma espada, uma imagem de demônio e velas.
Os satanistas cobrem o rosto, como na Idade Média. Invocam o príncipe das trevas, erguendo o cálice e o punhal. Acreditam que o demônio é uma energia que traz prazer físico. Dimitri não quis responder se os participantes fazem sexo durante o ritual. Mas confirma: no ritual, bebe-se sangue humano.
“Eu bebi sangue dos outros. A sensação é de estar em união com quem está com você naquele momento”, alega Dimitri.
“Dimitri é um caso grave. Ele obedece e defende Satanás. Não está possesso, o que é pior: age por vontade própria, como agiria Satanás”, diz o padre Gabriele Amorth.
O duelo recomeçou. Os caçadores de demônios, que quase entraram em extinção, ganham força. O Vaticano possui seis exorcistas oficiais. O mais antigo e célebre deles é Dom Gabriele Amorth, fundador e presidente da Associação Mundial dos Exorcistas.
Padre Amorth diz que o aumento das seitas preocupa muito. Ele a atribui a um vazio de fé. Na crença católica, Satanás era um anjo que fez oposição a Deus. O anjo rebelde se tornou o chefe dos demônios.
“É a igreja que se serve do demônio para assustar as pessoas. Não existe a encarnação do mal, nem mesmo um conceito absoluto de mal”, explica Dimitri.
“Eu reconheço o poder dessa gente, poder satânico. O demônio se serve dessas pessoas”, rebate padre Amorth.
O velho exorcista faz tudo para que as manifestações diabólicas voltem a ganhar credibilidade. Muitos padres e bispos não acreditam na existência do diabo. Padre Amorth fez mais de 40 mil exorcismos.
Ele usa as palavras do antigo ritual em latim, publicado pela primeira vez em 1614. No ritual seguido pelo exorcista, o Pai-Nosso é rezado em latim. Com água benta e crucifixo, o padre ordena ao Diabo que saia do corpo da vítima. O padre Amorth diz que existe um sinal claro de possessão demoníaca: a pessoa atacada por Satanás foge da cruz.
“Uma vez uma pessoa endemoniada me deu um chute e eu tive que ficar com a perna engessada 40 dias. Às vezes, quando erro uma oração, ele dá uma grande risada. Tenta desmoralizar o exorcista”, relata o padre.
Este ritual foi praticamente extinto pela Igreja Católica depois que a medicina descobriu doenças como a esquizofrenia. Este comportamento bizarro, segundo os psiquiatras, se deve a distúrbios mentais, e não à atuação do Diabo. Mas o padre Amorth sustenta que alguns casos não podem ser explicados pela ciência.
Como no filme "O Exorcista", padre Amorth diz que já viu a cama de um possuído tremer. E que uma menina endemoniada pode mesmo falar com a voz de homem.
Dom Gabriele Amorth revela: até mesmo o Papa João Paulo II participou de um ritual de exorcismo.
Setembro de 2000. Numa quarta-feira, na Praça de São Pedro, mal-estar e sobressalto. Uma italiana de 19 anos assistia silenciosa à audiência do Papa. De repente, a menina gritou, se contorceu, e, com a voz alterada, ofendeu o pontífice.
Dentro dos muros do Vaticano, Karol Woytila exorcizou a italiana.
“Quando o Papa benzeu a menina, entendeu que ela estava possuída pelo demônio”, conta padre Amorth.
Agora, o velho exorcista declara guerra ao líder da seita "Crianças de Satanás". “Tenho vítimas dessa seita, vítimas do satanismo de Dimitri e eu tive que exorcizá-las”, garante padre Amorth.