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Dois jornalistas testemunham para o mundo
Dois jornalistas testemunham para o mundo

Dois jornalistas testemunham para o mundo a veracidade da existência do demônio após presenciarem exorcismo

 
Primeira sessão relatada do exorcismo de “Marta”

Domingo, 22 de setembro de 2002

Exorcismo / Marta, a possuída
O exorcismo que eu vivi em Madri

O correspondente religioso de EL MUNDO vai, incrédulo, ao exorcismo que um sacerdote autorizado pelo Vaticano irá realizar. Mas fica comovido ao ver o que acontece com a jovem possuída pelo diabo

JOSÉ MANUEL VIDAL

-”Hic est dies” (este é o dia), diz o exorcista com o crucifixo na mão.
-Não, responde uma voz rouca de homem que sai da garganta da possessa, uma bela menina de 20 anos.
-”Exi nunc, Zabulon”, (saia agora, Zabulon), repete o sacerdote.
-No.
-Por que não quer sair?
-Para servir de testemunho.
-De testemunho de que?
-De que Satanás existe.

Corta-se a tensão no ambiente de penumbra da capela. Satán lutando contra Deus. Uma batalha à qual assisto atônito e em primeira fila pela primeira vez em minha vida. “Esta deve ser a razão pela qual me convidou a presenciar o exorcismo. O diabo quer publicidade”, penso no meio do choque. Minha mente gira a toda velocidade. Estamos no clímax de um ritual que, até agora, não encaixa em meus esquemas. E isso porque no seminário os padres seguiram alimentando meu medo infantil do Maligno, sempre disposto a tomar pose de uma alma. Depois do Concílio Vaticano II, o dogma da existência do diabo passou a ser uma “parte vergonhosa da doutrina” e, como tantos outros católicos, também eu prescindi dela.

O exorcista, José Antonio Fortea, pároco de Nossa Senhora de Zulema, está exausto. E isso por que tem apenas 33 anos. Mas está a mais de uma hora lutando, crucifixo empunhado, contra Satanás. Marta (nome fictício da possessa), ao contrário, está tão fresca como no princípio e não deixa de rugir, bufar, revolver-se e agitar seu corpo como uma massa. Com uma força inusitada para uma menina de 20 anos, ainda mais miúda e de traços doces. São 12h30 de um dia qualquer e estou ha uma hora e meia presenciando um exorcismo.

Um par de dias antes, recebi em meu celular uma ligação especial. Especial não por ser de um padre (recebo muitas), mas por ser de um exorcista católico (há um par deles na Espanha) que costumam manter-se muito afastados dos jornalistas. Quer me convidar a presenciar um exorcismo. Fiquei como uma pedra. Assistir a um exorcismo oficiado por um sacerdote autorizado pelo Vaticano é a sorte grande para alguém especializado em informação religiosa. Até esse momento e apesar de levar mais de 20 anos na profissão, o único que tinha conseguido foi entrevistar o exorcista oficial de Roma, o padre Gabriel Amorth. Já então, ao me dedicar seu livro havia escrito: “A José Manuel, com minha gratidão e com a advertência de não ter jamais medo do diabo”.

Confesso que por medo decidi devolver o telefonema de parte Fortea e pedir que deixasse vir comigo um companheiro da agência EFE, também especialista em informação religiosa. Aceitou. Nervosos, no dia indicado fomos em carro até a diocese de Alcalá. Era um dia radiante. Chegamos à paróquia com muita apreensão. Questão de preparar-se psicologicamente. Pelo caminho, brincadeiras e nervosismo. O exorcista nos havia citado em sua paróquia, uma igreja moderna, de ladrilho vermelho, situada entre pinheiros. O interior, simples e limpo. Com um mesa e uma grande cruz no meio. Em um lateral, a pia de água benta com uma inscrição: “A água benta afasta a tentação do demônio”.

Às 10h30, o exorcista sai do templo e vem a nosso encontro. É alto e magro. Usa bigodes e uma barba recortada. Seu aspecto é imponente. Talvez, por relacioná-lo com sua profissão de expulsador de demônios. Embutido em uma sotaina de um negro imaculado, seu rosto esbranquiçado e sua cabeça calva ressaltam ainda mais. Convida-nos a dar um passeio para nos explicar o caso.

Sete demônios

“Não sou nenhum “showman” nem quero publicidade. Se estão aqui é porque preciso de sua presença para libertar a menina. Têm que ser muito prudentes. Não podem dar pista alguma que permita a identificação nem da menina nem de sua mãe. Preferiria que também não me nomeassem, mas aceito esse sacrifício em vistas de uma maior credibilidade. Mas apenas Deus sabe o quanto me custa e os problemas que isso pode me causar. E não tenham medo. Com vocês não acontecerá nada”.Insiste na seriedade do tema. Assegura que no Antigo Testamento aparece 18 vezes a palavra Satã. E no Novo Testamento, 35 vezes a palavra diabo e 21 a palavra demônio. O próprio Jesus fez muitos exorcismos ou o que os Evangelhos chamam “expulsar demônios”. Fortea recorda também que João Paulo II realizou pelo menos três exorcismos reconhecidos e adverte que a crença no diabo constitui um dos poucos traços comuns à praticamente todas as religiões. “É o ponto ecumênico por excelência”. Aproveita para fazer um pequeno repasso pelas diversas religiões e épocas históricas e as diversas teorias. Continuo me mostrando incrédulo. Tenho da sensação de que se trata de nos condicionar buscando justificações na História.

Para fazê-lo colocar os pés no chão, perguntamos detalhes do caso. Nos conta que se trata de uma menina possuída por sete demônios. Que já expulsou seis, mas que o último ainda resiste. “Chama-se Zabulon, é um diabo quase mudo, mas muito inteligente. Seu nome já aparece na Bíblia. O chefe sempre fica para o final. Estou já há 16 sessões e ainda não consegui expulsa-lo, quando nos casos mais normais, basta apenas três”. Não quer dar mais detalhes da endemoniada. Diz apenas que virá acompanhada por sua mãe, “que é uma santa”, e que a possessão deveu-se a um feitiço que lhe fez uma companheira de instituto, aos 16 anos. “Em uma das primeiras sessões perguntei-lhe como havia entrado e me respondeu um nome que eu não conhecia. Sua mãe me disse que era uma companheira de classe, que havia invocado Satã para fazer um feitiço de morte contra ela. E de fato, primeiro esteve gravíssima e a ponto de morrer. Uma vez curada, começaram os fenômenos raros”. Desde então, sua mãe começa a detectar coisas estranhas em sua filha: móveis que se movem, objetos que se quebram e, principalmente, uma aversão especial aos objetos religiosos, quando era uma menina de ir à missa dominical. Até que um dia, de noite, ouve ruídos estranhos, se levanta e, quando abre a porta do quarto de sua filha, a vê sobre a cama levitando.

Como não quer perder sua única filha, começa a procurar remédios. Fala com o pároco, que a remete a dois famosos psiquiatras. Mas ambos diagnosticam que a menina é absolutamente normal. Nenhuma explicação científica para as constantes dores de cabeça que torturam sua filha. E então, Maria (nome fictício da mãe), a seus 60 anos, se lança à busca de um exorcista. Percorre quase todas as dioceses espanholas. Nenhum bispo quer saber nada de seu caso. Está já disposta a mudar-se com ela para a Itália para ver o padre Amorth, quando lhe falam de um exorcista espanhol que acaba de sair na televisão porque publicou um livro, Demoniacum, sobre os exorcismos.

Neste instante vemos chegar um táxi. “São elas”, diz Fortea. Maria, a mãe, é pequena, magra. Seu olhar é todo dor: “Acredito em Deus e sei que, cedo ou tarde, libertará minha filha das garras de Zabulon. Estou há cinco anos neste calvário. Ninguém da minha família sabe. Nem meus irmãos”, confessa. Maria é viúva e, cada vez que sai de sua casa para o encontro com o exorcista (praticamente, uma sessão por semana), tem que inventar alguma desculpa. “Não entenderiam e não quero que minha filha fique marcada para sempre”.

O ritual

A seu lado, Marta sorri timidamente. Pequena, de grandes olhos negros, um pouco tristes, tem a cara marcada de uma adolescência. Cabelo negro, preso em um rabo. Os lábios grossos e sem pintar, embora contraídos quase com uma careta de dor. Usa jeans, uma blusa azul celeste de manga curta e gola alta e sapatos negros. É bonita. Seus olhos chamam a atenção, mas mais que timidez causam medo, muito medo. Parece uma menina normal que, nos conta, estuda Matemática na Universidade. “É impossível que esteja possessa”, penso comigo mesmo.

O padre Fortea abre a capela, abaixo de sua paróquia onde diz a missa diariamente, e volta a fechar com chave por dentro. É pequena, acolhedora. Dentro, penumbra e silêncio absoluto. Fora, um sol radiante. O exorcista pede ajuda para transportar um colchonete forrado de plástico verde, grande e pesado, para coloca-lo ao pé do altar.

A capela, retangular, terá 25 metros quadrados. Sem janelas. No centro, um altar enorme. Em cima da toalha branca e seis velas acesas, sob uma grande Cruz da Trindade, apenas iluminada pela luz mortiça de um alógeno. Ao fundo, a imagem de um Pantocrátor iluminado e o Santíssimo. Em um lateral, uma imagem da Virgem com o Manino nos braços.

Entrando na capela, mãe e filha se preparam para o ritual. Marta coloca meias brancas, enquanto a mãe tira do bolso um terço, um crucifixo de 15 centímetros e uma estampa da Virgem de Fátima, e os coloca ao lado do colchonete. Trato de registrar o mais mínimo detalhe em minha mente. Sigo pensando que assisto a uma montagem. Marta deita no colchonete, olhando a cruz. Maria se ajoelha do seu lado, uma postura que não abandonará durante as seguintes duas horas e meia. O padre Fortea reza um momento de joelhos, tira a sotaina, bebe água e fica do outro lado do colchonete mais afastado do altar.

Pressinto que o ritual vai começar. Sento, com expectativa, no banco. O exorcista estende sua mão direita e a impõe sobre o rosto da jovem, sem tocá-la.Em seguida, fecha os olhos, abaixa a cabeça e sussurra várias vezes uma prece ininteligível. Um alarido desgarrador, o primeiro, quebra o silêncio da capela, penetra em minha alma e me arrepia. Não é humano. É um guincho assustador e profundo que sai da garganta de Marta. Mas não pode ser ela. Não é seu tom de voz. É rouco e masculino. O padre Fortea continua rezando e os rugidos se repetem. Pouco a pouco, o corpo da jovem se estremece vivamente. Sua cabeça se move de um lado a outro com lentidão no princípio, com inusitada rapidez depois.

“Sai, Zabulon”

Com a salmodia do exorcista, a jovem geme e se retorce sem parar. Num instante, o gemido se converte em rugido assustador, altíssimo, furioso. O exorcista acaba de colocar o crucifixo sobre seu ventre e em seu peito, enquanto a asperge com água benta. Chuta com tanta fúria que o crucifixo cai e a mãe o pega e uma e outra vez volta a colocar novamente, enquanto aproxima o terço que Marta atira longe, com fúria. Parece se tranqüilizar um pouco, mas imediatamente volta a rugir. Não há um momento de descanso. O padre Fortea acaba de invocar a São Jorge e, ao ouvi-lo, a jovem grita, bufa, colocas os olhos totalmente em branco, arquea o corpo e se levanta toda a um palmo do colchão. Não consigo acreditar.

-Beija o crucifixo, diz o exorcista.
-Não.
-Jesus é Rei.
-Assididididaj.
-Sequaz de Satanás, estás nas trevas.
-Assididididaj
-Estás fazendo muito bem. Por tua culpa, muita gente vai crer em Deus.
-Não.
-Sai, Zabulon, eu te ordeno em nome de Cristo. A condenação eterna está a sua espera. Não há salvação para ti.

Enquanto o padre Fortea continua ameaçando Zabulon, as mãos da jovem vão se transformando. São como garras. O exorcista reforça suas preces e suas exortações: “Hoje é o dia. Sai, Zabulon. Sai desta criatura em nome de Deus”. A jovem se desata em tremores. Os gritos se elevam até o espanto. E com voz rouca diz: “Assassinos”. É então que o padre Fortea lhe pergunta porque não sai e Zabulon lhe responde: “Para que as pessoas acreditem em Satanás”.

Esgotado, após uma hora e meia de luta, o exorcista se levanta e sai da capela. Isto não pode ser uma impostura nem uma montagem. É preciso muita coragem para dedicar-se a isso. E menos mal que os casos de possessão, segundo conta depois o padre Fortea, são muito poucos. Ele está há cinco anos exercendo e teve apenas quatro na Espanha. Mas, enquanto preparava sua tese, assistiu a outros 13 exorcismos. Nota-se que tem prática: manda, ameaça, insiste e, com voz suave, mas enérgica, tortura o diabo sem piedade. Com o que mais lhe dói. Sempre em nome de Deus. Não parece ter medo algum. E isso que já sabe o que é ser atacado por Satanás. Uma vez, em um exorcismo, diz que o diabo lhe fez sentir a mesma sensação e a mesma dor do que leva uma punhalada no braço.

Fortea sai da capela e meu coração acelera, pensando o que pode ocorrer agora sem a presença tranqüilizadora do exorcista. Mas não acontece nada. Ou sim. Maria, a mãe, pega o livro do rito e começa a repetir as mesmas ou parecidas frases do exorcista. Com calma, mas com decisão, parece não se dirigir a sua filha, mas ao Maligno que a possui:

-Em nome de Cristo te ordeno sair.
-Não.
-Abre os olhos e olha a Virgem, encrespa enquanto voltar o olhar sobre um postal da Virgem de Fátima.Mas, por toda resposta, obtém um grunhido. Então pega o crucifixo.
-É teu Criador, vês?
-Sim, diz a voz de além-tumba acompanhada de rugidos e grunhidos constantes.
-Olha, Zabulon, não resista. Sabes que é teu dia e tua hora. Chegou teu dia e tua hora.
-Nãããããooo…
-Por que resiste?
-Estou farto. Já te disse muitas vezes.
-Diga a esses senhores por que não te vais.
-Uhhhh.
-Diga-o claramente.
-Não quero.
-Diga-o em nome de Cristo
-Para que creiam em Satanás.
-São Jorge, vem. São Jorge, vem. Vem, São Jorge. Sai dela São Jorge.
A possessa pára um segundo, sorri e diz, com deboche:
-Sai são Jorge…

Aproveita o erro da improvisada exorcista e fará o mesmo, logo depois, com um pequeno equívoco do padre Fortea. Mas Maria não se dá por vencida. É uma autêntica Dolorosa ao pé da cruz de sua filha possuída. Sinto tanta pena que também me ajoelho e, entre lágrimas, suplico a Deus (em voz baixa, não me atrevo a intervir mais diretamente) que, pelo que mais queira, liberte Marta. Meu companheiro faz o mesmo. Fazia tempo que não rezava com tanto fervor.

Então entra de novo o exorcista, pega uma caixinha com hóstias consagradas do sacrário e se coloca diante da jovem:

-Veja o Rei dos Reis e ajoelha-te diante dEle.
-Não.
-Servo desobediente e rebelde, ajoelha-te, repete o padre Fortea, exibindo a hóstia consagrada.
-Assassino, deixa-me.
-São Jorge, faz com que se ajoelhe.

E como rapidamente, com a menção de são Jorge, a possessa se ajoelha e o padre Fortea faz com que abra a boca e receba a sagrada comunhão. E continua torturando o diabo que está em Marta. Após dar a comunhão, pega uma Bíblia e recita o Apocalipse: “Então o diabo foi arrojado à língua de fogo e enxofre… ali será atormentados dia e noite pelos séculos dos séculos”. E faz o diabo repetir frase por frase.

-Repete: Quanto mais teria me valido seguir a luz.
-Quanto-mais-teria-me -valido-seguir-a-luz, repete entre dentes e arrastando cada palavra.

E assim durante um longo tempo. O exorcista parece um professor que ensina uma criança rebelde, que repete à força entre bufos e alaridos, frases como estas: “Senhor, tu és Rei. Eu sou tua criatura. Nada escapa de teu poder. És o Alfa e Omega…”

-Já chega. Estou me cansando, grunhe.

Mas o padre Fortea persiste em acosso, pega um banquinho e se sente diante da possessa com um crucifixo na mão. “Hic est dies”, repete com força. Por um momento, creio que vai conseguir.

-Quanto mais demores em sair, mais gente crerá em Deus. És um pregador de Deus. Aproxima-te, senta-te e beija Cristo crucificado. Dai-lhe um beijo de respeito e homenagem.

Como zumbi, Marta se senta e se aproxima da cruz. Tem os olhos em branco e a boca espumando, mas beija o crucifixo. Então Fortea a segura suavemente por um braço, a faz levantar a obriga a percorrer a capela e a beijar a Virgem e o Sacrário.

-Aquí está Deus. Repete sete vezes: Iesus, lux mundi. A possessa repete, mas ao terminar lança um olhar como de fogo e diz:
-Assassino, deixa-me, não posso mais. Mas o exorcista continua mais um tempo.

Passou uma hora. Fortea pára um pouco. “Agora a senhora”, diz à mãe. E sai da capela. E Maria se inclina sobre sua filha e começa a repreender Zabulón:

-Tens que deixar esta criatura. Pelo sangue de Cristo, deixe-a. Seus anjos estão com ela. Vêm os três arcanjos. A Virgem vai te esmagar a cabeça…

Zabulón continua bufando e se retorcendo, mas não parece disposto a ir embora. Novamente entra o padre Fortea:

-Não temes a sentença de Deus?
-Sei qual é, grita desgarrada.

Sozinhos com a endemoniada

O padre Fortea olha a mãe: “Não se vá. Deixemo-los por hoje”. Levanta-se e vai. Os gritos se detêm em seco. Noto certa decepção no rosto de Maria. Deu-me a sensação de que esperava que fosse hoje. Passou quase três horas de joelho, mas em sua cara não há sinais e cansaço, apenas de certa desilusão. Recolhe com paciência a imagem da Virgem e o crucifixo e sai da capela. Meu companheiro e eu ficamos sozinhos com a endemoniada. Alguns segundos que se fazem eternos. Ficamos grudados no banco, sem respiração. De repente, volta-se para nós, abre os olhos (que manteve em branco durante três horas) e nos lança um olhar que não esquecerei enquanto eu viver. Seus olhos são de outro mundo. Nunca vi algo assim em minha vida. Ao mesmo instante, o olhar volta a ser o de Marta, que nos sorri, levanta-se com tranqüilidade, senta-se no banco e tira as meias brancas que dobra com muito cuidado. Noto que apenas transpira, apesar das três horas de exercício contínuo. Coloca os brincos e volta a sorrir.

-Como está?
-Cansada
-Sabe o que aconteceu?
-Não, não lembro. E enquanto nos fala, pega a estampa e o crucifixo, os que um instante atrás tanto odiava, e os beija com carinho.
- Sente dor de garganta?
-Não.

E sua voz é tão suave como quando chegou. Ninguém diria que por essa mesma garganta saíram guinchos durantes três horas.

-Sabes por que está aqui?
-Sim, isso eu sei. Sei que tenho…

Não termina a frase. Respeitamos seu silêncio. Saímos e nos sentamos em uma sala contígua os cinco. Marta está tranquila. Volta a ser a menina tímida de antes.

“Todas as noites”, nos conta Maria, “antes de me deitar pego o crucifixo, do qual nunca me separo, e abençôo o meu quarto: “Em nome de Deus, maus espíritos saiam deste quarto. E ela, antes de se deitar, sempre me pergunta: “Mãe, já abençoou o quarto?”" Mas mesmo assim sente medo. Como quando as mãos de sua filha se tornaram garras ao tocar a cruz ou quando a persignei com os dedos abertos, em forma de chifres, para crava-los nos olhos.”Sempre ameaças que, afortunadamente, nunca cumprem”.

E antes de se despedir, repete uma súplica: “Que os bispos e as pessoas se conscientizem. Que tenha muito mais exorcistas”. Abraça sua filha, as duas sobem no carro do padre Fortea e vão embora. Marta volta-se e nos olha. Seus olhos são o grito de angústia do escravo acorrentado. O padre Fortea fica de me ligar quando ocorrer a libertação definitiva.

Rezo por Marta e por sua mãe. O que vi não é uma montagem.

Assim é Zabulon

“Não fala muito, mas é muito inteligente”. Assim descreve o padre Fortea a Zabulon, o inimigo contra o qual vem lutando há sete meses. No princípio, o padre Fortea pensou simplesmente que assim se chamava o décimo filho de Jacó e Lia, sua mulher. Depois, investigando um pouco mais, deu-se conta de que estava lidando com um dos demônios mais poderosos do inferno.

Apareceu apenas três vezes na História. A primeira, em Ludón (França), no século XVI. Quase todas as freiras de um convento ficaram possuídas por uma multidão de diabos, que as atormentavam sem cessar. O chefe era Zabulon. A segunda, foi nos anos 50, em um caso de exorcismo realizado pelo padre Cândido, o exorcista italiano mestre do padre Amorth. E agora, voltou a aparecer.


Segunda sessão relatada do exorcismo de “Marta”

Para que se conscientizem… da existência do demônio.

O editorial de Hispanidad.com correspondente à edição de segunda-feira 30 de setembro é longo, mas garanto que vale a pena. É uma descrição, em primeira pessoa, de uma cerimônia de exorcismo celebrada em uma capela de Alcalá de Henares (Madri), e cujo objetivo era libertar uma jovem possessa por um demônio. Nessa sessão, de duas horas e meia de duração, estiveram presentes o diretor de Opinião de Hispanidad, Javier Paredes, e Luis Losada, que é o narrador. Outra sessão anterior, narrada pelo diretor de Religião do jornal El Mundo, José Manuel Vidal, e pelo responsável dessa mesma seção na agência EFE, provocou uma grande revolução. A sessão foi contada em El Mundo, e Vidal concluía dizendo que o que ele viu “não era uma montagem”. De imediatamente, a reação de muitos (por exemplo, a de alguns leitores de El Mundo) foi a mesma: Como é possível que um jornal sério conte estas coisas? Isso sim, ao que parece, ninguém se preocupou em adotar a atitude mais científica de todas: comprovar os fatos. Neste caso, como em qualquer outro descobrimento ou testemunho humano, cabem três atitudes: ou alguém enganou as testemunhas do exorcismo, ou as testemunhas enganam, ou é verdade que os demônios existem e que podem possuir o corpo de outro espírito, porque os seres humanos não são mais que um anfíbio de corpo e espírito.

Animo-lhes a ler o testemunho de Luis Losada, ratificado por Javier Paredes, sem preconceitos. De suas conclusões o relato pode depender tudo ou nada, mas seguramente colocará à prova equanimidade. Aí vai:

Volto de uma das sessões de exorcismo realizadas pelo padre Fortea. Escrevo impressionado. Os gritos de Zabulón, e as orações do sacerdote e da mãe da possessa, ainda martelavam em minha consciência. Creio no “Não prevalecerão”, mas tenho medo. Se pudesse dar meia volta, o faria, sem dúvida alguma, e não teria ido a esta sessão. Minha alma está inquieta após o brutal encontro com o demônio. Mas tenho que escrever o que vi, porque Deus permitiu que o demônio Zabulón se apoderasse do corpo de Marta (nome fictício) “para que se conscientizem” da existência do demônio. Essa é uma das respostas que Zabulón deu ao exorcista quando lhe perguntou por que não saía desse corpo. Por isso, Maria (nome igualmente fictício), a mãe de Marta, me pediu, ao nos despedirmos, que contássemos a todo o mundo, para que, o quanto antes, se produza a libertação de sua filha.

-”Padre, podemos contar algo do que vimos?”

-Podem contar o que quiserem. As obras da luz não têm medo da luz, as obras das trevas buscam as trevas.

Sem dúvida, algum sentido deve ter minha presença nesse exorcismo, que, com o passar do tempo, acabarei descobrindo. Entretanto, só posso manifestar motivações rasteiras. A inquietude jornalística, a curiosidade e sem dúvida a ingenuidade e a falta de consciência me fizeram aceitar a oferta de meu amigo e companheiro de Rádio Intereconomia, Javier Paredes, para acompanhá-lo a uma sessão de exorcismo. Sem preparação psicológica, pego o carro rumo a paróquia madrilena onde o Pe. Fortea celebrará a décima sétima sessão do exorcismo de Marta.

Marta é uma menina jovem, de aparência doce, que vai com uma mistura de medo e esperança à sessão, com o objetivo de que o “pesadelo” desapareça. Ao terminar “tudo” nos confessará estar cansada, embora se sinta incapaz de lembrar o que vivemos durante mais de duas longas e intermináveis horas. Maria, sua mãe, é baixa, magra, miúda… Está consumida, triturada, mas é forte, agüentou todo o exorcismo de joelhos junto de sua filha.

Sem longas conversações nem preparação alguma, o Pe. Fortea nos faz sentar em um banco da capela. Não há mais ninguém. Apenas duas indicações: desligar os celulares e permissão para abandonar a sessão quando quisermos. Não é uma grande bagagem para assistir ao mais impactante que uma pessoa jamais poderá assistir. Sem preâmbulos, Marta se deita no colchonete que, previamente, ajudou a colocar. Sua mãe se ajoelha a seu lado. Javier e eu permanecemos no banco em uma atitude discreta, com expectativa… e acovardados.

O Pe. Fortea se ajoelha e reza em silêncio durante alguns minutos. Depois se senta no colchonete diante da cabeça de Marta. Coloca a mão em cima da cabeça e começa a invocar a Deus. Apenas ao pronunciar seu nome o corpo de Marta sofre um espasmo, suas pupilas se ocultam e seus olhos permanecerão em branco durante toda a sessão. Depois, invoca São Jorge e Marta volta a convulsionar em meio a gritos assustadores.

O que vivemos Javier e eu durante duas horas e meia foi uma prolongação deste início, em um estado de tensão que ainda continua a oprimir minha alma. São duas e meia da manhã. Passaram mais de doze horas da finalização do exorcismo. Continuo tenso e sem paz. Mas rezo. Por Marta e por sua mãe. Mas também por todas as testemunhas que passaram por essa capela onde Zabulón fez-se palpavelmente presente.

Em um dado momento, o sacerdote ordena ao demônio:

-Em nome de Jesus Cristo, sai da menina!

-Não! -responde a voz de além-túmulo que sai do corpo de Marta. Não é a voz de Marta, é uma voz rouca, forte e carregada de ódio. Há ódio em todas as respostas de Zabulón. Até um simples sim ou não, é pronunciado com ódio. Dá para sentir.

-”Por meu poder sacerdotal, ordeno que saia dessa mulher”, prossegue o padre Fortea.

-¡Aggghh! -responde Zabulón, em meio a espasmos, convulsões e gritos. Marta se retorce. Deitada, move-se com uma elasticidade estranha. Se não fosse pelo colchonete, sofreria graves lesões… Depois, sabe-se lá porque, de ter estado gritando, muito forte, durante mais de duas horas, quando nos despedimos não sentimos em Marta o menos sinal de rouquidão.

O exorcista ordena a Zabulón, uma e outra vez, que abandone esse corpo, mas o demônio resiste. Para pressioná-lo, o Pe. Fortea recordava a Zabulón que estava fazendo muito bem, porque, através dele, muitos creriam em sua existência. Marta –ou o que vive dentro dela- se retorcia com violência. Então, o Pe. Fortea voltava ao ataque lembrando ao demônio que o esperava a condenação eterna, que não tinha nada a fazer. Zabulón grunhia desesperadamente.

Posteriormente, o Pe Fortea “armou-se” de uma estampa da Virgem de Fátima e uma cruz, com a estampa em punho insistiu a Zabulon a que a beijasse.

-¡Aggggghh! Nãããooooo! –respondia a voz de além-tumba que saída do feminino e adolescente corpo de Marta.

-Em nome de Jesus Cristo, eu te ordeno, beije esta estampa -insistia o exorcista.

-Não quero! -respondia Zabulón, entre espasmos, gritos e convulsões do corpo de Marta.

O Pe. Fortea faz uma pequena pausa e pede a São Jorge que o ajude. Com o nome de São Jorge, Marta se revolve. Dentre todas as invocações aos anjos e aos santos, a de São Jorge, para este demônio em concreto, é a mais eficaz. Pronunciar seu nome produz um efeito imediato. Com os espasmos e alaridos da menina, sinto lástima por Marta, mas vejo sua mãe, que com gesto sereno, aprova o cerimonial. Porque não é Marta que se retorce, é Zabulón quem o exorcista está martirizando.

-Sabe que o terás que fazer mais cedo ou mais tarde. Eu te ordeno: sai!

-Nãããoggghhh! -responde Zabulón.

-Muito bem, tu assim o quiseste -responde o Pe. Fortea- vou jogar água benta…

-¡Aggg! -Zabulón se retorce com a idéia de ser salpicado por água benta. O corpo de Marta atira-se com as gotas que caem da água que o exorcista derrama.

Javier e eu continuamos sentados. Ele tem um terço entre suas mãos. De volta, no carro, disse-me que durante as duas horas esteve passando as contas, rezando Ave Marias e jaculatórias, pedindo por Marta… e para que não acontecesse nada conosco.

Permaneço imóvel, tratando de passar despercebido. Acredito que Javier pensa o mesmo. Temos um demônio diante de nossos narizes em plena “exibição” de seu poder, ódio e fúria. Estou assustado. Continuo temeroso. Em um momento, Marta atira um dos terços de sua mãe. Eu o pego e já não o soltarei durante toda a sessão. Durante toda a sessão, apenas em uma ocasião Marta girou um pouco o pescoço e nos olhou de relance, com seus olhos em branco, mas em nenhum momento nos olhou de frente, graças a Deus não o fez nunca.. Parecia como se tivesse uma barreira entre nós e ela. Era uma barreira muito fina, invisível e frágil, mas eu temia que pudesse se romper a qualquer momento. Felizmente, durante as duas horas e meia da sessão não nos olhou de frente.

O exorcismo continua. Em um dado momento, o Pe Fortea sai para descansar, rezando uma parte da liturgia das horas. Não poderia rezar em outro momento?, penso comigo mesmo.

-Em nome de Jesus, beija o crucifixo!

-¡Aggg!, -geme Zabulón.

A mãe de Marta se dirige diretamente ao demônio e lhe diz: “Eu sou apenas uma criatura, mas amo ao Senhor, e em seu nome te digo, beija o crucifixo”.

-Não, -diz Zabulón, ameaçando a mãe com as mãos de Marta em forma de garras.

-Não te atrevas a me fazer nada! Para trás!

As mãos de Marta transformadas em garras continuam com seu acosso sobre a mãe:

-Para trás!

Então a mão se transforma em um chifre disposto a arrancar os olhos da sofredora mãe, forçadamente metida a exorcista.

-Disse que não te atrevas a fazer nada a esta criatura de Deus, em nome do arcanjo São Gabriel, de São Jorge e de todos os santos.

O Pe. Fortea cala diante desta intervenção a mãe e continua rezando em silêncio, consciente de que o amor de um mãe, pode ser uma das forças mais poderosas deste mundo. A imprecação da mãe ao demônio continua durante um tempo, que para mim é eterno. Ela lhe ordena que se incorpore. Após várias negativas, finalmente o faz.

Uma vez sentada, a mãe lhe exige que incline sua cabeça diante da estampa da Virgem. Neste momento o pescoço de Marta, em um golpe seco, se estira para trás até limites impensáveis.

-Não -responde o discípulo de Satanás pela boca de Marta.

É impressionante ver o pescoço e a cabeça para trás, em atitude e postura soberbas, teimando em não dobrar a cabeça diante da imagem da Virgem. A mãe, insiste, e Zabulón responde cm o mesmo dom desafiante.

Mas a mãe não se rende. Finalmente, em meio de espasmos e gritos, o pescoço começa a ceder até tocar o peito com o queixo. Um processo duro, que não se faz sem a resistência de Zabulón, que se nega a prestar reverência à Virgem. Entretanto a possessa fechou os olhos para não contemplar a imagem, enquanto inclinava a cabeça. E Maria lhe ordena que os abra. Abre, mas a expressão é espantosa, os olhos estão totalmente brancos, mas mais espantoso é o olhar odioso, dirigida como um dardo à imagem da Virgem Maria.

O exorcista toma a iniciativa. Ordena ao demônio: “Beija o crucifixo”: Nãããoooo! Quando a sessão parecia que não avançava, nem para frente nem para trás, Zabulón, mudo, faz com mão o sinal de “querer escrever”.

Imediatamente, o Pe. Fortea vai até a sacristia e busca papel e caneta. Não parece encontrá-lo e eu estou a ponto de oferecer minha caneta e meu caderno. Não o faço por medo de me aproximar e por meu apego material à minha caneta de marca. Felizmente, o sacerdote encontra os materiais para a escritura: um bloco grande que mãe coloca em seu colo, e sobre o bloco coloca uma folha. A caneta não funciona e é substituída por um lápiz. Marta esta agora deitada de barriga para cima, com a cabeça para trás e estira o braço para alcançara folha. Nesta postura é impossível que possa ver sua própria mão escrevendo. A toda velocidade e, é claro, sem olhar o papel, a mão de Marta começa a se deslizar sobre o papel. Se os gritos e a voz rouca fazem sentir a presença de Zabulón, agora, enquanto escreve, dá para senti-lo mais perto. Javier e eu não entendíamos bem o que estava acontecendo. Só ouvíamos as perguntas do exorcista, mas não víamos as respostas escritas. Quando acabou o exorcismo, Fortea entregou as duas folhas Javier, que obram em seu poder. De volta para casa, ambos tratamos de reconstruir a cena. Foi então que Javier me fez notar que as letras não estavam embaralhadas: a escritura era claríssima e os acentos estavam colocados perfeitamente sobre a letra correspondente. Os caracteres eram os próprios da letra impressa, não da escritura manual. O diálogo oral-escrito, no qual o padre Fortea pergunta e Zabulón responde escrevendo através da mão de Marta, diz o seguinte:

-Queria desesperar-lhes porque tinha reforços.

Com essa frase escrita, Zabulón explica o estancamento do exorcismo que havia ocorrido durante a primeira hora.

-Que reforços, quem veio? -pergunta o exorcista.

-Satã -responde Zabulón-, mas já foi embora. E, em seguida, e sem perguntar nada, volta a escrever: “Falta 1 pessoa”. E destaca o “1″ várias vezes.

-Que pessoa?

Com esta pergunta, a mão solta o lápis e Marta fecha fortemente os lábios. Zabulón não quer responder.

-Dai-me um sinal para que eu saiba quem é -insiste o exorcista, mas os lábios da endemoniada permanecem selados.

Neste ponto já estamos esgotados, haviam passado quase duas horas. Não respiramos durante toda a sessão e mantivemos um estado de tensão e medo como jamais atravessei em minha vida. O exorcista continua tratando de que Zabulón beije o crucifixo, reconheça seu Rei, etc, com pouco sucesso. Então chega um dos momentos para mim mais impactantes. O sacerdote muda de postura e, sem querer, dá um chute em uma vasilha de água benta, que se derrama por toda a capela. Escuto uma risada surda e odiosa do além. Zabulón se regozija do erro do Pe Fortea. Estremeço.

O exorcista não parece dar nenhuma importância. Estou impressionado. Nada lhe importa, nada lhe impressiona. Tudo é normal. Eu estou quase subindo pelas paredes… Então, o sacerdote decide dar a comunhão à possessa. Veste a estola, vai ao Sacrário e se coloca aos pés da endemoniada. Toma uma sagrada forma e a levanta no alto. A endemoniada, estendida no chão, de barriga para cima, muda a expressão de seu rosto, é todo um terror e começa a se arrastar para trás, para afastar-se o mais possível do sacerdote. Rasteja de barriga para cima com os mesmos movimentos de um lagarto. Então, em nome de Cristo, presente na hóstia, o sacerdote ordena que se ajoelhe dizendo-lhe: “Perante o nome de Cristo, todo joelho se dobre”. Zabulón-Marta, após uma certa resistência, se ajoelha. Javier e eu, desde que o Sacrário foi aberto, caímos de joelhos e vamos permanecer assim até que volte a introduzir o copão no Sacrário.

-Ao final, deveríamos estar agradecidos, -diz o Pe Fortea-, graças a ti, muitos crerão nos demônios. Percebes como tu também servir a Deus? -Nããoooo! -responde abertamente Zabulón.

-Olha o Rei e Senhor, -ordena o exorcista com a hóstia na mão.

O alarido gutural do demônio se faz mais estrondoso:

-Aggg! Nãããooo!

O Padre Fortea insiste e, após várias tentativas, Zabulón tem que obedecer e abre a boca. A hóstia permanece na língua de Marta, que mantém a boca aberta durante vários minutos. Nega-se a engolir. Enquanto isso, Zabulón emite gritos, e o corpo de Marta convulsiona. Ao terminar tudo, Javier e eu sentimos o mesmo temor de que Zabulón cuspisse a sagrada comunhão. Mas, nesse momento do exorcismo, o demônio, esgotado, já não pode mais que obedecer as ordens do sacerdote. Passados alguns minutos, e após as ordens, tanto do exorcista como da mãe, para que engolisse a forma, a hóstia entrou no corpo de Marta.

Então ocorreu a maior das convulsões de toda a sessão. Gritos, alaridos, gemidos, garras, movimentos acelerados do corpo. Vários minutos de máxima tensão. Não sabia onde me enfiar. Só de recordar me dá pânico. O Pe Fortea, permanece impassível. Prossegue o exorcismo pronunciando palavras que não entendo. Não é espanhol, nem latim, o idioma utilizado em várias das exortações da sessão. Ao terminar, pergunto-lhe: “Não posso te dizer agora, mas te direi mais tarde”. Não entendo a resposta. Na realidade, não entendo nada… Tampouco o exorcista entende o idioma em que Zabulón fala. O espírito maligno repete com insistência uma expressão estranha. O exorcista acredita que se trata de várias palavras que podem ter algum significado. Mas se trata de uma língua estranhíssima.

Quase ao final da sessão, o sacerdote lembra o que foi escrito no papel: “Falta 1 pessoa”. Supõe-se que uma terceira testemunha, e lhe ordena que diga a identidade. Todo esforço inútil, assim que, como “castigo” lhe ordena que beije o sacrário. Marta se incorpora com a ajuda do exorcista e de sua mãe. Caminham e, antes de chegar ao Sacrário, passam diante de uma imagem gótica da Virgem Maria:

-Beija os pés que hão de esmagar tua cabeça –lhe ordena Fortea. E a endemoniada, após emitir uns sons que sugerem asco e repugnância, diante da imagem da Virgem –sons emitidos ao longo do exorcismo antes de beijar as imagens e o crucifixo- beija os pés da imagem. Javier e eu permanecemos em nosso lugar, enquanto a possessa e o exorcista se dirigem ao Sacrário. Após muita insistência, Zabulón pronuncia um nome que para o exorcista é muito claro e que eu, apesar de estar a apenas 5 metros, não escuto com clareza. Ao que parece, trata-se de uma pessoa conhecida que permitiria cumprir o objetivo verbalizado em sessões anteriores: “Que se conscientizem”… da existência dos demônios.

O exorcista se dá por satisfeito com o nome, pois é o nome de uma pessoa que tinha pensado em convidar, vários dias antes de começar a sessão. Embora o demônio continue dentro, decide terminar a sessão. Deita Marta no colchonete e não faz mais nada. Apenas recolhe o “material”; água benta, breviário, Bíblia, crucifixo, terço, etc. De repente, Marta abandona a crise. Recupera seus olhos e seu sorriso tímido. Não se lembra de nada. Apenas tem a sensação de ter saído de um pesadelo, mas não lembra de mais nada.

Não é capaz de explicar nem mesmo com entra em “crise”. Pergunto-lhe se é quando uma pessoa está anestesiada para uma operação e me responde que não. Ainda não entendo. Ela sabia que iam “acontecer coisas”. Antes da sessão tirou cuidadosamente os brincos e os sapatos. Deitou-se “religiosamente” no colchonete e se submeteu ao “tratamento” do sacerdote.

Mais surpreendente é que Maria se encontre em graça de Deus e vai todo o domingo à celebração eucarística. Como é possível que em uma mesma pessoa habite a graça santificante e o demônio? Ainda não tenho resposta. Não tenho resposta para muitas coisas… Só sei que o que você lê, eu vi com meus olhos descrentes e mórbidos. Para que se conscientizem da existência dos demônios?

Não entendo de psiquiatria nem de teologia. Simplesmente dou testemunho do que vi, e como observador da realidade, certifico que o que aqui está escrito é verdade. Espero que para o bem do leitor, de Marta, de sua mãe e de quantas testemunhas passamos por essa capela. Que assim seja.

Testemunho ratificado por Javier Paredes, historiador e jornalista, diretor de opinião de Hispanidad.com